segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vou-me embora pra Pasárgada

Cinco de dezembro de dois mil e onze, dia em que tentei ver nos mínimos detalhes motivos para um sorriso. Dia que senti um sentimento indescritível e não muito modesto. Dia em que a minha vontade de chorar prevaleceu, e nada mais.
  Além da tristeza pela derrota do galo, de 6x1, a coragem de levantar da cama e ir novamente para a semanal consulta na clinica de Auriculoterapia dominou meu corpo. E lá estava eu, abaixo de um solzinho não muito forte, mas bem desagradável esperando um ônibus vir para eu me atirar na frente dele. Mentira. Claro que já pensei em morrer, mas ai Deus disse: Você quer mesmo tomar uma decisão que te afaste do chocolate e da internet? Eu disse, “Não, obrigada!”
Estava dentro da sala da nutricionista quando ela ordenou: “Suba na balança Dayane.” Se eu não me defequei toda com medo de não ter perdido nenhum quilo? Imagina, não, não. Ai ela disse: “Parabéns, você perdeu 1,7 kg em uma semana!” Meu coração apenas bateu mais aliviado, fechei o olho e pensei: É, hoje pode ser um dia tolerável. Sai da clinica, almocei com duas tias, fui pra escola. Quatro amigos perceberam a minha tristeza mais me recusei a dizer qualquer coisa. Descobri que tinha duas provas importantes, um dever que eu não tinha feito e que ninguém ainda tinha montado o cenário da peça que iríamos apresentar no dia seguinte. Pensei: “Hoje meu dia não pode mesmo ser nada lindo!”
Subia a rua da minha casa quando lembrei-me do poema de Bandeira que tinha lido na aula de português. (Até então todo o meu dia estava perdido num abismo fundo e escuro.)
Não sei se foi o título interessante do poema que me chamou atenção, ou foi o motivo pelo qual Manuel escreveu, apenas sabia que aquilo se encaixava no roteiro do meu dia. Cheguei em casa, começou a chover. Uma chuvinha de nada, de muito vento e relâmpagos. E olha, vou sussurrar uma coisa para você, não tem nada melhor que escrever quando se está chovendo. O barulho da chuva forte parece lavar sua imaginação fazendo brotar na sua mente idéias fabulosas para um texto, ou até mesmo para o quinto capítulo de um livro. Eu gosto, mas isso ainda não foi o motivo para um sorriso verdadeiro.
Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”(Manuel Bandeira)
Sim, também estava num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença de tristeza,quando achei a solução e gritei: Quero ir pra Pasárgada! Sim, relativamente eu gritei. O rapaz que passava do meu lado andando morro acima, olhou pra mim com espanto e continuou subindo.  Não me importei de ter pensado alto ou ter gritado no meio da rua “Quero ir pra Pasárgada!”
Minha necessidade de sair da atmosfera pesada de confusão e problemas familiares, me entrega sempre na mão um bom livro ou um grande sorriso no rosto por culpa de palavras sábias e escritas por feras da literatura, tanto nacional quanto estrangeira.
 Depois de ter lido e relido várias vezes o poema, e ter concluído que Pasárgada é o lugar onde eu deveria estar, aceitei que naquela altura do campeonato eu não iria achar mais nenhum motivo extraordinário para sorrir verdadeiramente e me sentir melhor. Quer dizer, deitei a cabeça no travesseiro, virei para um lado, virei para o outro e pensei: “Em uma semana perdi 1,7 kg.” Instantaneamente, sorri. 

Dayane Carvalho.

2 comentários:

  1. Dayane, querida, ADOREI!!! Parabéns, ficou muito lindo seu texto. Não pare nunca de escrever, pois isso está no seu sangue. Você escreve muito bem e a cada vez me surpreende mais. Beijos!!!

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  2. Nossa, muito obrigada! E pode ter certeza de que nunca vou parar de escrever,mesmo nos dias dificeis que todos nós toleramos não é mesmo?! Ler ou escutar comentários legais e inspiradores assim como o seu, me da ainda mais ânimo. Mais uma vez, Obrigada, e continue sempre entrando porque ainda postarei mais coisas! Beijos!!

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