sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Chuvosa manhã


   Vinte e oito de novembro de dois mil e onze. Acho que Deus escolheu essa data para me mostra que o amor verdadeiro ainda existe.
   Dia chuvoso, manhã escura e fria... Imagino que você pensou: “Dia perfeito para ficar debaixo de um cobertor comendo chocolate e tomando leite quente com açúcar.” Eu também pensei isso meu caro, ou minha cara, mas a minha vontade de emagrecer é tanta, que ultrapassa a vontade de ficar debaixo de um cobertor, em plena segunda feira chuvosa e fria. E lá estava eu, num ponto de ônibus sendo molhada pela chuva. “Não imagina, você não estava sendo molhada por uma chuva, era apensar suco de limão caindo do céu ok?” em fim, tinha que pegar um ônibus que me levasse a clinica de Auriculoterapia.   
  Aposto que de primeira você não conseguiu falar o nome todo e parou no meio da palavra... É eu também. No ponto estavam apenas uma jovem e um rapaz. Três minutos depois chegou uma mulher. Vestia uma saia jeans longa, uma blusa marrom não muito grossa, e uma rasteirinha. Estava sem sombrinha. De primeira não me importei muito porque a chuva estava fina. Depois pensei: “Não custa nada eu abrigá-la em baixo de minha sombrinha, afinal, espaço debaixo dessa sombrinha preta de bolinhas brancas é que não falta.” Sentiu o drama né? PRETA DE BOLINHA BRANCA.
A mulher distraída desencadeou uma conversa sem fim. Primeiro disse que tinha esquecido a sombrinha em casa, tinha mais de três, mas estava com muita pressa que deixou em cima da mesa. Pensou em comprar outra.
_ Eu achei um absurdo sabe? Dez reais, uma sombrinha, e ainda aquelas vagabundas. Disse para o vendedor de sombrinhas, que no centro estava apenas cinco reais, e das boas... Ele disse: “Então vai comprar no centro uai.”
A mulher riu alegremente não se importando com a falta de educação do vendedor de sombrinhas. Depois nos calamos. Durante um minuto o silencio permaneceu, depois ela disse:
_ Coitado do meu marido.
_ Por quê?
_ Ele é pedreiro, e com essa chuva ele tem que parar a obra, chega há ficar uma semana sem trabalhar...
Durante os três minutos que a mulher falou sem parar, de sua boca saíram vários elogios relacionados ao marido. Sorria apenas. O ônibus da mulher chegou e ela foi embora, como uma não mais qualquer desconhecida. Logo atrás, lá estava meu ônibus. Olhava distraída a rua quando comecei a refletir sobre o acontecimento de um minuto atrás. Uma mulher humilde, que provavelmente nunca tenha andado de avião, ali, num ponto de ônibus, dividindo uma sombrinha com uma adolescente de jeans preto e moletom vermelho, cuspia palavras bondosas e cheias de amor. Pensei: nem num ponto de ônibus ela deixa de expressar o amor que sente pelo marido, pedreiro. Já quase chegando à clínica “Coma e Emagreça Auriculoterapia”, conclui: Tanta gente rica, que nunca precisou pegar um ônibus debaixo de chuva por ai, com um emprego bom, um apartamento de luxo e um divórcio no currículo. Nada contra as pessoas separadas, claro que ninguém tem obrigação de viver em um casamento infeliz, mas, o que me chamou atenção foi o jeito dela elogiar o marido, mesmo sabendo que o dinheiro da semana não iria aparecer. O que me chama atenção é o jeito espontâneo e alegre do pobre. É o jeitinho que a gente acha de ver graça e amor nos simples acontecimentos do dia-a-dia.

Dayane Carvalho.

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