terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Essa sou eu abrindo um sorriso benevolente de quem tentou escrever sobre elas

  Durante os minutos que estive sentada dando-me tempo para pensar sem ter que lutar com as palavras, lembrei de uma coisa que li hoje pela manhã:
"Nós não somos vítimas, nós queremos ser sujeitos da nossa própria história, por isso é importante a conquista da representação política das mulheres", afirmou. Para Dilma, o Brasil tem uma "dívida história com as brasileiras".
 Tenho quinze anos, sou uma adolescente como todas as outras que é viciada em chocolate e ama rock.(Mentira eu não amo rock, é que é legal dizer que ama rock, mas ouço rock, mas não amo.) A única coisa que me diferencia é meu senso prático de explicação para tudo. Minha vontade de discutir assuntos que na maioria das vezes ninguém com quinze anos se interessa, me deixa preocupada e muitas vezes se funde em algo relacionado ao livro ou em um simples texto ou crônica. Para ficar mais claro, meu fiel leitor e leitora, (espero mesmo que voce seja fiel) resolvi, felizmente resolvi que iria “tentar” escrever algo que concluísse ou simplesmente explicasse esse jeito único de cada mulher. Claro que te conto o motivo pelo qual senti necessidades de escrever sobre nós. O motivo é que estou cansada de ouvir: “É impossível entender vocês.” Quem diz isso? Adivinha... Seu namorado, seu marido, seu filho, seu amigo, seu pai, você leitor... Todos aqueles seres que arrotam auto em uma pizzaria lotada, que peidam na sua frente e que nunca lavam as mãos após irem ao banheiro.
Meus queridos, se vocês não entendem a gente, acha mesmo que nós nos entendemos?
  A mulher hoje conquistou tanto respeito e voz, que tenho orgulho de ser mulher. Tenho orgulho de ser brasileira pelo simples fato de termos uma presidente da república tão inteligente e prendada como a Dilma Rousseff. Assino embaixo das vinte e três palavras que ela disse com firmeza e elegância.
   Você tem noção do que nós somos? Você tem noção do que representamos? Você tem noção do que pensamos? Exatamente. É tão vasto e amplo que é impossível imaginar ou ter noção do que é a mulher.
Aquele salto, aquele vestido lindo e caro e aquela maquiagem não é nem um terço do que somos.
Nós somos tão completas, melodramáticas, frívolas, sensíveis, fortes emocionalmente, puras, silenciosas, alegres, capazes, tristes, observadoras, que é impossível imaginar o mundo sem nós.
Vejo-me rindo sozinha às vezes. Ao mesmo tempo em que me sinto agastada e infeliz, me encontro na mais perfeita felicidade racional. É tão estranho também essa coisa do amor... É estranho porque achamos deliciosa a sensação de estarmos apaixonadas por uma pessoa quase inacessível. É necessário o fato de sempre estarmos querendo mostrar um sorriso e querer demonstrar afeto e carinho. O mais estranho de todos é sempre, mas sempre amarmos o fato de sermos amadas por alguém. Entende? É tão gostosa e aceitável a sensação de amor. E quando o amor não acontece com a gente? Ficamos intrigadas ou sem condição para reagir. A vida fica parecendo tediante e muito incompleta. Mas achamos rápido uma solução. É uma seqüência, primeiro choramos depois rimos. Não se preocupe porque as lágrimas são necessárias e poderosas que vem e alivia a dor de cabeça que sentimos por tudo. Quando rimos,
ai meu filho, fica tudo muito bem novamente.
 Demorei mas conclui: Gosto de trabalhar com as palavras quando elas se referem a elas.

Dayane Carvalho

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Convivendo com aqueles transtornos diários

“Sinto-me fraca, incapaz e embrutecida. Já perdi meu senso de humor e meu senso de prazer.” – disse Agatha Hans Ferraz, a personagem principal do meu livro. Quer dizer, futuro livro, o projeto mais importante da minha vida. Escrever um livro não é para os fortes e capazes. Escrever um livro é para os quem têm um dom e que na maioria das vezes, é sem vergonha.
   A vida me parecia perfeita. Tudo muito normal, muito aceitável, muito chato demais. Os dias transcorriam alegres. Até então a fictícia Dayane Carvalho não tinha nascido ainda. Eu era apenas uma garota, a filhinha da mamãe, da titia e da vovó.
Vinte e dois de dezembro de dois mil e dez, escrevi meu primeiro texto melodramático. Meu primeiro texto sadio e maduro. Foi deste tal texto que nasceram todos os personagens do livro. O motivo pelo qual o escrevi? Uma briguinha tola e diária que tive com meus pais. Nunca pensei que de uma briga se fundiria tanta coisa boa.
Escrever para mim agora, virou rotina. Por exemplo, hoje, sete de dezembro de dois mil e onze, aniversário da minha mãe. Um simples parabéns saiu da minha boca. Assim, tão frio e frívolo.  Estou me sentindo péssima, horrível e péssima. Eu a amo tanto, mais a minha dificuldade de expressar certos sentimentos limita-me de fazer com que eu mude meu jeito ignorante de falar certas coisas. Isso já deixou de me irritar. Deixou de me irritar quando percebi que em vez de chorar até dormir, eu poderia simplesmente escrever.
_ Parabéns mãe.
_ Parabéns, agora? Depois que você o dia inteiro me evitou? Ta, Obrigada!
 Só defendendo minha moral de filha: Eu não a evitei. Sabe o que me irritou profundamente? O “Obrigada”. Espera ai, se eu a irritei o dia inteiro, como ela ainda me agradece? Educação? Senso de humor? Ou, simplesmente sarcasmo? Amigos próximos sempre falam: Vocês são mãe e filha, tem que ser amigas... Mas eu nunca dei atenção a tais conselhos sensatos. Eu não ouvia, porque no fundo, minha mãe sempre foi muito minha amiga. O problema é que existe um abismo entre nós duas que eu ainda não descobri como fechá-lo. Não descobri como evitá-lo. Eu, mudar? Claro, estou sempre à disposição de mudanças. Agora, e ela? A minha mãe não tem mais essa disposição de mudança que tenho. Ela é uma mulher, casada, tem duas filhas, é uma excelente profissional, uma mulher de caráter... É bem mais fácil eu mudar do que para ela não? Mas como já disse, ainda não descobri como, onde e quando. Fico pensando, se eu deixar pra mudar esse meu jeito de falar e dizer as coisas para Sra. Carvalho quando já for tarde demais? Diariamente estou mudando. Meu jeito de agir, de falar, de lidar com as pessoas, gostos musicais... O Titanic, por exemplo, quando eu era pequena não entendia por que todos choravam no final do filme. Lembro-me que teve um dia que fui dormir pensando naquele colar que a velhinha jogou no oceano. Meu Deus, por quê? Como assim ela joga o colar no oceano? Pra mim, era um absurdo um navio daquele tamanho, cheio de gente gorda dentro, pesado, flutuar por cima da água. Ridículo... Hoje eu entendo porque todos choram no final, inclusive eu. Hoje entendo porque a velhinha jogou o colar no oceano. Entendo porque os dois não podiam ficar juntos.
Então, tudo é questão de tempo sabe? Tempo e diálogo. Vocês nunca podem pensar igual eu penso, “E se for tarde demais?” Não, nada de tarde demais... A única coisa que temos que fazer é correr atrás de mudanças boas nas nossas vidas e dias felizes e toleráveis.

OBS: Me contorci de risos agora porque percebi que comecei o texto com um propósito e terminei com outro. Mas afinal, é disso que estávamos falando mesmo não?

Dayane Carvalho.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Vou-me embora pra Pasárgada

Cinco de dezembro de dois mil e onze, dia em que tentei ver nos mínimos detalhes motivos para um sorriso. Dia que senti um sentimento indescritível e não muito modesto. Dia em que a minha vontade de chorar prevaleceu, e nada mais.
  Além da tristeza pela derrota do galo, de 6x1, a coragem de levantar da cama e ir novamente para a semanal consulta na clinica de Auriculoterapia dominou meu corpo. E lá estava eu, abaixo de um solzinho não muito forte, mas bem desagradável esperando um ônibus vir para eu me atirar na frente dele. Mentira. Claro que já pensei em morrer, mas ai Deus disse: Você quer mesmo tomar uma decisão que te afaste do chocolate e da internet? Eu disse, “Não, obrigada!”
Estava dentro da sala da nutricionista quando ela ordenou: “Suba na balança Dayane.” Se eu não me defequei toda com medo de não ter perdido nenhum quilo? Imagina, não, não. Ai ela disse: “Parabéns, você perdeu 1,7 kg em uma semana!” Meu coração apenas bateu mais aliviado, fechei o olho e pensei: É, hoje pode ser um dia tolerável. Sai da clinica, almocei com duas tias, fui pra escola. Quatro amigos perceberam a minha tristeza mais me recusei a dizer qualquer coisa. Descobri que tinha duas provas importantes, um dever que eu não tinha feito e que ninguém ainda tinha montado o cenário da peça que iríamos apresentar no dia seguinte. Pensei: “Hoje meu dia não pode mesmo ser nada lindo!”
Subia a rua da minha casa quando lembrei-me do poema de Bandeira que tinha lido na aula de português. (Até então todo o meu dia estava perdido num abismo fundo e escuro.)
Não sei se foi o título interessante do poema que me chamou atenção, ou foi o motivo pelo qual Manuel escreveu, apenas sabia que aquilo se encaixava no roteiro do meu dia. Cheguei em casa, começou a chover. Uma chuvinha de nada, de muito vento e relâmpagos. E olha, vou sussurrar uma coisa para você, não tem nada melhor que escrever quando se está chovendo. O barulho da chuva forte parece lavar sua imaginação fazendo brotar na sua mente idéias fabulosas para um texto, ou até mesmo para o quinto capítulo de um livro. Eu gosto, mas isso ainda não foi o motivo para um sorriso verdadeiro.
Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”(Manuel Bandeira)
Sim, também estava num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença de tristeza,quando achei a solução e gritei: Quero ir pra Pasárgada! Sim, relativamente eu gritei. O rapaz que passava do meu lado andando morro acima, olhou pra mim com espanto e continuou subindo.  Não me importei de ter pensado alto ou ter gritado no meio da rua “Quero ir pra Pasárgada!”
Minha necessidade de sair da atmosfera pesada de confusão e problemas familiares, me entrega sempre na mão um bom livro ou um grande sorriso no rosto por culpa de palavras sábias e escritas por feras da literatura, tanto nacional quanto estrangeira.
 Depois de ter lido e relido várias vezes o poema, e ter concluído que Pasárgada é o lugar onde eu deveria estar, aceitei que naquela altura do campeonato eu não iria achar mais nenhum motivo extraordinário para sorrir verdadeiramente e me sentir melhor. Quer dizer, deitei a cabeça no travesseiro, virei para um lado, virei para o outro e pensei: “Em uma semana perdi 1,7 kg.” Instantaneamente, sorri. 

Dayane Carvalho.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Chuvosa manhã


   Vinte e oito de novembro de dois mil e onze. Acho que Deus escolheu essa data para me mostra que o amor verdadeiro ainda existe.
   Dia chuvoso, manhã escura e fria... Imagino que você pensou: “Dia perfeito para ficar debaixo de um cobertor comendo chocolate e tomando leite quente com açúcar.” Eu também pensei isso meu caro, ou minha cara, mas a minha vontade de emagrecer é tanta, que ultrapassa a vontade de ficar debaixo de um cobertor, em plena segunda feira chuvosa e fria. E lá estava eu, num ponto de ônibus sendo molhada pela chuva. “Não imagina, você não estava sendo molhada por uma chuva, era apensar suco de limão caindo do céu ok?” em fim, tinha que pegar um ônibus que me levasse a clinica de Auriculoterapia.   
  Aposto que de primeira você não conseguiu falar o nome todo e parou no meio da palavra... É eu também. No ponto estavam apenas uma jovem e um rapaz. Três minutos depois chegou uma mulher. Vestia uma saia jeans longa, uma blusa marrom não muito grossa, e uma rasteirinha. Estava sem sombrinha. De primeira não me importei muito porque a chuva estava fina. Depois pensei: “Não custa nada eu abrigá-la em baixo de minha sombrinha, afinal, espaço debaixo dessa sombrinha preta de bolinhas brancas é que não falta.” Sentiu o drama né? PRETA DE BOLINHA BRANCA.
A mulher distraída desencadeou uma conversa sem fim. Primeiro disse que tinha esquecido a sombrinha em casa, tinha mais de três, mas estava com muita pressa que deixou em cima da mesa. Pensou em comprar outra.
_ Eu achei um absurdo sabe? Dez reais, uma sombrinha, e ainda aquelas vagabundas. Disse para o vendedor de sombrinhas, que no centro estava apenas cinco reais, e das boas... Ele disse: “Então vai comprar no centro uai.”
A mulher riu alegremente não se importando com a falta de educação do vendedor de sombrinhas. Depois nos calamos. Durante um minuto o silencio permaneceu, depois ela disse:
_ Coitado do meu marido.
_ Por quê?
_ Ele é pedreiro, e com essa chuva ele tem que parar a obra, chega há ficar uma semana sem trabalhar...
Durante os três minutos que a mulher falou sem parar, de sua boca saíram vários elogios relacionados ao marido. Sorria apenas. O ônibus da mulher chegou e ela foi embora, como uma não mais qualquer desconhecida. Logo atrás, lá estava meu ônibus. Olhava distraída a rua quando comecei a refletir sobre o acontecimento de um minuto atrás. Uma mulher humilde, que provavelmente nunca tenha andado de avião, ali, num ponto de ônibus, dividindo uma sombrinha com uma adolescente de jeans preto e moletom vermelho, cuspia palavras bondosas e cheias de amor. Pensei: nem num ponto de ônibus ela deixa de expressar o amor que sente pelo marido, pedreiro. Já quase chegando à clínica “Coma e Emagreça Auriculoterapia”, conclui: Tanta gente rica, que nunca precisou pegar um ônibus debaixo de chuva por ai, com um emprego bom, um apartamento de luxo e um divórcio no currículo. Nada contra as pessoas separadas, claro que ninguém tem obrigação de viver em um casamento infeliz, mas, o que me chamou atenção foi o jeito dela elogiar o marido, mesmo sabendo que o dinheiro da semana não iria aparecer. O que me chama atenção é o jeito espontâneo e alegre do pobre. É o jeitinho que a gente acha de ver graça e amor nos simples acontecimentos do dia-a-dia.

Dayane Carvalho.