quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Convivendo com aqueles transtornos diários

“Sinto-me fraca, incapaz e embrutecida. Já perdi meu senso de humor e meu senso de prazer.” – disse Agatha Hans Ferraz, a personagem principal do meu livro. Quer dizer, futuro livro, o projeto mais importante da minha vida. Escrever um livro não é para os fortes e capazes. Escrever um livro é para os quem têm um dom e que na maioria das vezes, é sem vergonha.
   A vida me parecia perfeita. Tudo muito normal, muito aceitável, muito chato demais. Os dias transcorriam alegres. Até então a fictícia Dayane Carvalho não tinha nascido ainda. Eu era apenas uma garota, a filhinha da mamãe, da titia e da vovó.
Vinte e dois de dezembro de dois mil e dez, escrevi meu primeiro texto melodramático. Meu primeiro texto sadio e maduro. Foi deste tal texto que nasceram todos os personagens do livro. O motivo pelo qual o escrevi? Uma briguinha tola e diária que tive com meus pais. Nunca pensei que de uma briga se fundiria tanta coisa boa.
Escrever para mim agora, virou rotina. Por exemplo, hoje, sete de dezembro de dois mil e onze, aniversário da minha mãe. Um simples parabéns saiu da minha boca. Assim, tão frio e frívolo.  Estou me sentindo péssima, horrível e péssima. Eu a amo tanto, mais a minha dificuldade de expressar certos sentimentos limita-me de fazer com que eu mude meu jeito ignorante de falar certas coisas. Isso já deixou de me irritar. Deixou de me irritar quando percebi que em vez de chorar até dormir, eu poderia simplesmente escrever.
_ Parabéns mãe.
_ Parabéns, agora? Depois que você o dia inteiro me evitou? Ta, Obrigada!
 Só defendendo minha moral de filha: Eu não a evitei. Sabe o que me irritou profundamente? O “Obrigada”. Espera ai, se eu a irritei o dia inteiro, como ela ainda me agradece? Educação? Senso de humor? Ou, simplesmente sarcasmo? Amigos próximos sempre falam: Vocês são mãe e filha, tem que ser amigas... Mas eu nunca dei atenção a tais conselhos sensatos. Eu não ouvia, porque no fundo, minha mãe sempre foi muito minha amiga. O problema é que existe um abismo entre nós duas que eu ainda não descobri como fechá-lo. Não descobri como evitá-lo. Eu, mudar? Claro, estou sempre à disposição de mudanças. Agora, e ela? A minha mãe não tem mais essa disposição de mudança que tenho. Ela é uma mulher, casada, tem duas filhas, é uma excelente profissional, uma mulher de caráter... É bem mais fácil eu mudar do que para ela não? Mas como já disse, ainda não descobri como, onde e quando. Fico pensando, se eu deixar pra mudar esse meu jeito de falar e dizer as coisas para Sra. Carvalho quando já for tarde demais? Diariamente estou mudando. Meu jeito de agir, de falar, de lidar com as pessoas, gostos musicais... O Titanic, por exemplo, quando eu era pequena não entendia por que todos choravam no final do filme. Lembro-me que teve um dia que fui dormir pensando naquele colar que a velhinha jogou no oceano. Meu Deus, por quê? Como assim ela joga o colar no oceano? Pra mim, era um absurdo um navio daquele tamanho, cheio de gente gorda dentro, pesado, flutuar por cima da água. Ridículo... Hoje eu entendo porque todos choram no final, inclusive eu. Hoje entendo porque a velhinha jogou o colar no oceano. Entendo porque os dois não podiam ficar juntos.
Então, tudo é questão de tempo sabe? Tempo e diálogo. Vocês nunca podem pensar igual eu penso, “E se for tarde demais?” Não, nada de tarde demais... A única coisa que temos que fazer é correr atrás de mudanças boas nas nossas vidas e dias felizes e toleráveis.

OBS: Me contorci de risos agora porque percebi que comecei o texto com um propósito e terminei com outro. Mas afinal, é disso que estávamos falando mesmo não?

Dayane Carvalho.

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